Trabalhadoras e trabalhadores organizados de países de toda as américas estão reunidos desde segunda-feira (2), em La Falda, em Córdoba, na Argentina, para quatro encontros seguidos. O primeiro, que começou na segunda (2) e termina nesta terça-feira (3), é a 6ª Conferência Regional UNI Américas Finanças. Nos próximos dias, acontecerão ainda a 7ª Conferência Regional da UNI Américas Mulheres e a 6ª Conferência Regional da UNI Américas Juventude, ambas no dia 4, e por fim, a 6ª Conferência Regional da UNI Américas, de 5 a 7 de dezembro. Nos dois dias da 6ª Conferência Regional UNI Américas Finanças, braço continental da UNI Global Union, sindicato mundial que representa mais de 20 milhões de trabalhadores, foram aprovadas uma série de moções, entre elas: - Quebrando barreiras; - Sindicatos para uma economia sustentável; - Mudando o mundo do trabalho; - Defesa dos bancos públicos; - Democracia e direitos humanos; e - Sistemas de pensão previdenciária. Durante a defesa da primeira moção, a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CU) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira, fez um balanço do cenário mundial. “Nós estamos falando de um mundo onde as economias desenvolvidas têm crescido pouco, tem elevado suas taxas de juros, têm protegido suas economias, e isso impacta nas nossas economias, nos países emergentes, no nosso continente. Nesse sentido, a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) está apontando um crescimento pequeno para a nossa região, de 2%, exatamente por causa do protecionismo das economias desenvolvidas”. Somado ao protecionismo dos países centrais e que contribui para a crise no desenvolvimento regional nas américas, Juvandia destacou o impacto da tecnologia no mercado de trabalho do setor financeiro. "Estamos assistindo a inteligência artificial (IA) acelerando os processos nos bancos tradicionais, com a redução de postos de trabalho. Isso, somado à atuação as fintechs, no mercado financeiro, que são bancos sem bancários, que não têm a mesma regulação, nem a mesma cobrança dos bancos tradicionais, tem impactado fortemente os nossos empregos e os direitos dos trabalhadores", completou.
Democracia e direitos humanos
Os trabalhadores também discutiram a proteção da democracia. "Sem democracia não temos dinheiro, não temos sindicatos fortes, não temos trabalho decente. Então, daí a importância de nos solidarizarmos no continente, por exemplo, com a Argentina, que tem sofrido uma série de ataques, por parte do atual governo, de Milei, mas também em outros países da América do Norte, Central e do Sul". Nesse sentido, a Juvandia ressaltou a importância do fortalecimento das negociações coletivas, de acordos marcos globais, garantindo direitos para todos, em todos os países. “A unidade entre todos nós é fundamental, é o que nós chamamos nesta conferência de esperança coletiva para um mundo melhor", observou. A presidenta da Contraf-CUT concluiu reforçando a necessidade de recuperação da trajetória de luta da classe trabalhadora para que o mundo coloque, no centro das discussões, as pessoas e o trabalho, em detrimento da concentração de renda. "Mas não nos iludamos que vamos conseguir, apenas pelo modelo de negociação coletiva direta, melhorar a vida do trabalhador. Se nós não interviermos no modelo econômico do país, da região, se nós não lutarmos por um mundo mais inclusivo, que preserve o meio ambiente, pra ter uma economia diferente, que pense nas pessoas, que coloque o trabalho no centro, acabe com as desigualdades, que não ache normal existir miséria e fome, com poucos tendo muito, não vamos vencer essa luta", ressaltou. A secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Rita Berlofa, ao lado de Nevia Ribeiro (vice-presidenta da UNI Américas Mulheres) e Ivone Silva (ex-coordenadora do Comando Nacional dos Bancários), participou do debate sobre a moção em defesa da demoracia.
"A democracia é importante para todos nós, dirigentes sindicais. Sem democracia o que resta é a barbárie, sem democracia não existe direito dos trabalhadores, não há sindicato, porque a primeira coisa que os governos autoritários fazem é atacar o movimento sindical, o direito dos trabalhadores", destacou. Rita completou que a defesa da democracia precisa ser uma bandeira diária no continente. "Somos nós, do movimento sindical, que defendemos, por meio de acordos negociados, a inclusão das mulheres, dos negros, das pessoas com deficiência, das pessoas da comunidade LGBTQIA+, somos nós, dirigentes sindicais, que também defendemos melhor distribuição de renda. Por isso é essencial nosso papel na defesa da democracia", reforçou.
Defesa dos bancos públicos
Na defesa da moção pelos bancos públicos, também representando a comitiva brasileira, participou do debate a secretária da Mulher da Contraf-CUT e coordenadora da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), Fernanda Lopes. “Levamos a experiência brasileira recente: nos governos Temer e Bolsonaro, não só os bancos públicos, mas todas as empresas públicas, necessárias ao desenvolvimento do país, sofreram ataques e forte risco de privatização. Não fosse a atuação do movimento sindical, nas ruas e nas redes sociais, essas empresas não teriam sido protegidas. E por que temos que continuar debatendo isso e educando a sociedade como um todo? Por que, as empresas públicas, ao contrário das privadas, não priorizam o lucro a qualquer custo e permitem levar o desenvolvimento para regiões afastadas, onde as empresas privadas não têm interesse”, destacou a dirigente.
Sistemas de pensão
A comitiva brasileira também levou ao encontro informações sobre sistemas de pensão e sua importância para assegurar a vida digna de trabalhadores e seus familiares, após a aposentadoria. O secretário-geral da Contraf-CUT, Gustavo Tabatinga, ressaltou que, no Brasil, existem dois regimes de previdência: o público e o privado, com destaque, neste último bloco, aos fundos de pensão fechados, estabelecidos por trabalhadores de empresas públicas. "No caso específico dos bancários do Banco do Brasil, temos a Previ, com mais de 120 anos, organizada e criada pelos próprios trabalhadores e, hoje, um dos maiores fundos de pensão da América Latina".
O presidente da Fetrafi/NE, Carlos Eduardo, explicou que o modelo brasileiro de previdência pública é um modelo com olhar "para a classe trabalhadora e para os mais vulneráveis", enquanto o sistema de previdência complementar, formado pelos fundos de pensão fechados, existe para "evitar distorções que o próprio capital impõe, ao gerar desigualdades". Ele destacou ainda, com base em dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que, juntos, os sistemas de previdência pública no mundo acumulam cerca de U$ 6 trilhões. "Se olharmos a previdência complementar, a chamada privada, esse montante é da ordem de U$ 50 trilhões, a maior parte, controlada por trustes [empresas que já detêm grande parte de um mercado e que se uniram], que não têm respeito ao dinheiro do trabalhador e submetem os investimentos a setores sem compromisso social. Falo de empresas como a Blackrock, como Vanguart, que usam o dinheiro do trabalhador para financiar até mesmo entidades que combatem o movimento sindical", pontuou. Assim, os representantes brasileiros reforçaram a importância de proteger os fundos de pensão que seguem sendo geridos por trabalhadores e, em outros países, lutar para que os trabalhadores tenham domínio sobre a gestão dos seus próprios recursos.
Von Der Osten é homenageado e Juvandia Moreira assume presidência da Uni Finanças
Ao final do encontro, a UNI Américas Finanças entregou uma placa em homenagem ao brasileiro Roberto von der Osten, o Betão, ex-presidente da Contraf-CUT, pela sua história de luta no movimento sindical. Em agradecimento, ele ressaltou a importância das conferências promovidas pela entidade, para o fortalecimento da classe trabalhadora em âmbito mundial. "Esse é um espaço onde trocamos nossa fraternidade, trazemos, de cada país, de cada região nossas angústias e saímos daqui com uma esperança coletiva, de que o mundo, a partir deste minuto, já é melhor”, pontuou. “Vivemos um tempo difícil, em todo o mundo, mas que momento, no mundo, para nós trabalhadores, não foi difícil? E como superamos isso? O velho camarada Marx já disse que tínhamos que nos unir. Na unidade nós vamos construir um mundo muito melhor do que temos hoje", completou. O encontro terminou com a passagem da gestão da UNI Finanças Américas das mãos do argentino Sérgio Palazzo para as mãos da brasileira Juvandia Moreira. “Chegamos aqui no encerramento, marcados por ricos debates, reflexões profundas e, acima de tudo, compromisso profundo com os trabalhadores e trabalhadoras do setor financeiro em nossa região. Antes de tudo, gostaria de parabenizar o companheiro Sérgio, por sua liderança na Argentina, sua liderança na UNI Finanças e por sua liderança na UNI Mundial”, ressaltou Juvandia Moreira. A secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Rita Berlofa, arrematou que os dois dias de evento foram fundamentais para a troca de experiências entre trabalhadoras e trabalhadores das américas. “Temos consciência de que os desafios são grandes, para que a economia seja solidária, sustentável e para que, como Juvandia colocou, o trabalhador esteja no centro. Mas também saímos fortes, porque nossa linguagem é a mesma e, com isso, reforçamos nossa unidade, sem a qual não conseguiremos enfrentar essa luta. A partir de amanhã, começará a 7ª Conferência Regional UNI Américas Mulheres e a 6ª Conferência Regional da UNI Américas Juventude, e por fim, vamos também participar da 6ª Conferência Regional da UNI Américas, onde mais debates, importantes como foram esses, serão aprofundados”, concluiu.
Fonte: CONTRAF |